Dívidas que Entram no Divórcio: O Que Você Precisa Considerar

advogadadeinventario

Dra. Roberta Martins Lima - Advogada de Divórcio e Inventário

Partilha não é só dividir imóveis e carros. É também decidir quem paga o quê, como e até quando. Abaixo, um passo a passo direto para você entender as dívidas no divórcio, evitar armadilhas e sair com previsibilidade (e sem boletos surpresa).


1) Por que as dívidas importam tanto

  • Elas influenciam quem fica com qual bem (ex.: o imóvel financiado).
  • Podem gerar bloqueios (cartório, banco, condomínio) se não estiver claro quem paga e como comprovar quitação.
  • Mesmo com acordo, você pode continuar responsável perante o credor se não houver novação/assunção formal com ele.

2) O que entra (e o que costuma causar dor de cabeça)

  • Financiamentos de imóvel e veículo (parcelas, seguros, taxas, saldo devedor).
  • Cartões de crédito e empréstimos (inclusive consignado).
  • Condomínio e IPTU (imóvel) • IPVA e multas (veículo).
  • Contas rotineiras (água, luz, internet) acumuladas no período comum.
  • Obrigações empresariais quando um é sócio e a dívida se confundiu com despesas do lar (caso a caso, com prova).

Regra de bolso: em comunhão parcial, dívidas onerosas do período da união tendem a ser discutidas como comuns; as anteriores em geral são de quem as contraiu.


3) Regime de bens x dívidas (impactos práticos)

  • Comunhão parcial: dívidas contraídas durante a união e em benefício da família tendem a ser comuns. As anteriores, não.
  • Comunhão universal: tende a ampliar a comunhão, inclusive de obrigações (sujeito a exceções contratuais/legais).
  • Separação total/obrigatória: cada um responde pelo que contrai (salvo prova de benefício comum ou outras peculiaridades).

Quer entender seu regime? Regime de bens explicado.


4) “Data fim” (separação de fato) — o congelamento que salva

Defina e prove a data em que o relacionamento efetivamente terminou (mensagens, novo contrato de aluguel, contas em nome próprio, testemunhas). Isso evita que você arraste dívidas feitas depois do término.


5) Financiamentos e direitos aquisitivos

  • Imóvel financiado: defina posse, quem paga as parcelas, quando transferir e o que acontece se vender ou quitar antes do prazo.
  • Veículo financiado: titularidade no Detran + responsabilidade por IPVA, licenciamento e multas.
  • Assunção/novação com o credor: se um vai “ficar com a dívida”, negocie com o banco. A cláusula no acordo sozinha não te libera perante o credor.

6) Exemplos práticos (traduzindo para o cotidiano)

  • Cartão estourado com compras do lar: tende a ser comum. Solução: dividir o saldo e definir prazos de pagamento + comprovação mensal.
  • Empréstimo pessoal para hobby individual: tende a ser privativo (salvo prova de benefício familiar).
  • Condomínio/IPTU atrasados do apartamento da família: discutem-se como comuns; já inclua plano de quitação no acordo para liberar a matrícula.
  • Multas de trânsito reiteradas do mesmo condutor: direcionar ao responsável e ajustar no Detran após a divisão do veículo.

7) Como escrever a cláusula perfeita de dívidas (sem brechas)

Na minuta, detalhe:

  1. Listagem de cada dívida (credor, contrato, nº, saldo, juros, data de corte).
  2. Responsável por cada obrigação e forma de pagamento (à vista, parcelas, data e conta).
  3. Prova de quitação: envio mensal de comprovantes (e-mail/WhatsApp) e sanção por descumprimento (multa/execução).
  4. Contato com o credor: quem tratará da novação/assunção e em que prazo.
  5. Garantias (se houver): caução, seguro, retenção de parte de venda de bem, etc.

Base para a sua minuta: Minuta de acordo – o que incluir.


8) Checklist de dívidas para o divórcio (printa e marca)

  • [ ] Extratos e saldos atualizados (financiamentos, cartões, empréstimos)
  • [ ] Condomínio/IPTU do imóvel familiar (débitos e acordos)
  • [ ] IPVA/multas por veículo (nada consta)
  • [ ] Definição de quem paga o quê + prazos e contas
  • [ ] Plano de novação/assunção com o credor (banco/condomínio)
  • [ ] Provas da data fim (separação de fato)
  • [ ] Cláusula de comprovação de pagamento (envio mensal)

9) Divórcio em cartório (inclusive online) x Judicial

  • Cartório (presencial ou online): se houver consenso completo e advogado(s). Com filhos menores/incapazes, o plano vai ao MP; com parecer favorável, lavra-se a escritura.
  • Judicial: quando não há acordo ou o MP não aprova o plano de filhos.

Organize documentos com este guia: Checklist de documentos para divórcio.


10) Erros comuns (e como evitar todos)

  • “Um assume e pronto”: sem acordo com o credor, ambos seguem expostos.
  • Esquecer tributos e taxas (condomínio, IPTU, IPVA, multas) — eles travam transferências.
  • Minuta vaga (sem prazos/contas/comprovação) — vira fonte de litígio.
  • Ignorar a data fim — você carrega dívida que nasceu depois do término.

FAQs (perguntas rápidas)

  1. Quais dívidas entram no divórcio? As contraídas durante a união e em benefício da família costumam ser discutidas como comuns, conforme o regime de bens.
  2. Cartão no nome de um só entra? Pode entrar se for despesa do lar. Provas ajudam (faturas, notas).
  3. Se o outro “assumir” o financiamento, fico livre? Só com novação/assunção formalizada com o banco.
  4. Condomínio e IPTU atrasados de imóvel comum? Trate como comuns e já inclua plano de quitação para liberar a matrícula.
  5. Como provar a data fim? Mensagens, novo endereço, contas em nome próprio, testemunhas.

  • Todos
  • Divórcio
  • Inventário
Load More

End of Content.